Sei que vou morrer, não sei o dia
Levarei saudades da Maria
Sei que vou morrer não sei a hora
Levarei saudades da Aurora
(ATAUFO ALVES, 1909-1969)
O Ministério da Saúde através do Boletim Epidemiológico (BE) no 232 , mostra que os óbitos por Covid-19 entre os profissionais de saúde, até às 12h do dia 20 de julho eram de: 64 em São Paulo, 16 no Rio de Janeiro, os dois estados mais populosos do país e na Paraíba com um caso. No tocante as informações dos policiais militares
ou das outras forças de segurança pública, não encontramos nenhum tipo de referência relacionando os óbitos desses profissionais na publicação oficial acima mencionada.
Então, partimos para a questão-problema: qual o perfil dos óbitos dos policiais militares por Covid-19 no Brasil em 2020?
Consultando as páginas eletrônicas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), do Conselho Nacional de Comandantes Gerais das Polícias e Corpos de Bombeiros Militares (CNCG), bem como da Federação Nacional das Entidades de Oficiais Militares Estaduais (FENEME), não encontramos nenhum registro dos quantitativos ou perfis dos óbitos de policiais militares brasileiros por Covid-19.
Insistindo na busca para saber o perfil dos policiais militares vitimados durante a pandemia que o mundo e o Brasil passam atualmente, decidimos pesquisar no Google as palavras-chaves: “mortes de policiais por covid” e “mortes de policiais em 2020.” Eis que, conforme o quadro acima, encontramos as notícias que surgem na
primeira página do site de busca anteriormente citado.
Delimitando a inquietude conforme a questão-problema inicialmente mencionada, considerando que, até o presente momento não conseguimos sistematizar dados com abrangência nacional, decidimos então investigar os casos
na Polícia Militar da Paraíba (PMPB). Usamos então como fonte primária o Boletim Geral da PMPB, bem como as fontes secundárias: Caixa Beneficente dos Oficiais e Praças da Polícia e Corpo de Bombeiros Militar da Paraíba, websites e notas de pesar das associações representativas que noticiaram os falecimentos.
Nesse diapasão, conseguimos constatar a existência de 11 (onze) casos entre os que estavam no regime estatutário ativo ou reserva remunerada, sendo todos masculinos.
Quando realizamos uma divisão entre os círculos hierárquicos, encontramos que 82% (9) eram Praças (Cabo, Sargento ou Subtenente) e 18% (2) eram Oficiais (Tenente ou Coronel). Desses, 64% (7) estavam na ativa e 36% (4) na reserva remunerada, o que é o equivalente ao aposentado na população civil. A média simples
de vida atingiu 53,5 anos sendo a menor idade 40 e a maior 64, respectivamente.
Compulsando os temos empregados pelo médicos que assinaram as declarações de óbitos, percebemos a existência de fatores de risco como se observa no quadro seguinte.
É fato notório que os profissionais da saúde estão permanentemente no inside of frontline do acolhimento, combate e tratamento dos pacientes diagnosticados com o Covid-19. No entanto, haveremos de refletir de forma mais aprofundada sobre o fato de o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde mostrar uma morte de profissional
da saúde na Paraíba, enquanto, na PMPB, esse número já superou esse score.
Um redimensionamento da gestão do capital humano das polícias militares, deve ser implementado com urgência, a partir do perfil dos grupos de risco apontados por centro de pesquisas e órgãos oficiais, sob pena de presenciarmos profundas perdas entre os combatentes de farda e coturno, no que essa pandemia é só mais
uma agonia a ser combatida pelo pacificadores sociais militares estaduais.
Em memória dos: Silva, Gomes, José, Pedro, Nascimento, Santos, Lima, Sebastião, Alves, Duarte, Moura; policiais militares que tombaram combatendo o inimigo invisível, minha continência militar na posição de sentido com atitude, gesto e duração.
Onivan Elias de Oliveira
Tenente Coronel da Polícia Militar do estado da Paraíba.