Analisar a morbimortalidade é importante no campo da demografia da saúde, visto ser um dos instrumentos que mede o nível de saúde de uma determinada comunidade em um período de tempo, objetivando auxiliar tanto o planejamento, como a execução, acompanhamento e a avaliação de programas importantes para a prevenção em saúde coletiva.
Assim este artigo discute o perfil de morbimortalidade entre os servidores militares da reserva na Paraíba ao longo dos últimos 30 anos, ancorado na linha de pesquisa de Segurança em Saúde para os Profissionais de Segurança Pública, de modo que permita traçar o perfil da morbimortalidade encontrada naquela população.
É importante ressaltar que em epidemiologia se entende que a morbimortalidade equivale ao número de indivíduos que morreram como consequência de uma enfermidade específica, em um determinado grupo populacional e durante um determinado período de tempo, todavia, vamos explorar o conceito aplicando o mesmo para apresentar o universo das patologias que culminaram na morte daqueles servidores militares.
As origens das patologias não são classificadas, face o estudo ter tido foco estratégico na quantificação e qualificação dos dados encontrados sem se aprofundar no que causou a morte dos militares, até porque, dados médicos não puderam ser acessados devido ao sigilo e ética do profissional em saúde em relação aos seus pacientes quando vivos, fato que não prejudica ao conteúdo, sua análise, interpretação e sugestões que podem ser adotadas, à medida que haja interesse público e pessoal de cada servidor vivo da segurança pública de nosso Estado.
Para tanto se esclarece que este artigo tem sua metodologia baseada em estudo descritivo, exploratório, transversal retrospectivo e documental, feito a partir de um levantamento e revisão de 2.334 certidões de óbitos dos policiais militares do Estado da Paraíba, no período de 1º de janeiro de 1990 à 31 de dezembro de 2019, incluídos os que serviam no Corpo de Bombeiros antes de sua autonomia administrativa, ocorrida em dezembro de 2008.
Foram tabulados e construídos no modelo matemático de frequências e intervalos de classe tendo como fonte primária os dados coletados junto à Associação dos Inativos Policial e Bombeiro Militar; Caixa Beneficente dos Oficiais e Praças da Polícia e Bombeiro Militar, ambos do Estado da Paraíba, assim como, boletins gerais tanto da
Policia Militar (PMPB), como do Corpo de Bombeiros Militar (CBMPB), de modo que esses dados nos revelasse no mínimo quem, quando, onde e como morreram esses servidores estaduais, para que esses resultados fossem, sobretudo, considerados válidos pela comunidade científica.
Da análise dos resultados, se observou que dos 2.334 policiais militares que vieram a óbito na Paraíba, entre janeiro de 1990 e dezembro de 2019, a predominância das mortes foi de 99,9% para sexo masculino; que 73% estavam na inativa; que juntos os policiais-militares perderam 32.653 anos potenciais de vida.
Além disso, 52,8% atingiram em média a idade de 66 anos quando morreram; que 87,5% eram Praças e que os Cabos e Soldados predominaram com 55% dos óbitos; sendo que, 95% morreram fora de serviço; 80% morreram
por patologias evitáveis, sendo as doenças do coração, pulmão, do sistema nervoso e digestivo as que tiveram maior incidência e prevalência entre os problemas de saúde observados; levando a 44% daquela população adquiriram câncer.
De tudo ficam três certezas, a primeira é que estamos morrendo precocemente e em sua maioria por patologias evitáveis ou mesmo controláveis, pois podem ser identificadas em tempo hábil e na velocidade que o caso exige, a
partir dos resultados encontrados nesta pesquisa.
Que de acordo com os resultados, há grande probabilidade que haja neste momento, na ativa e fora dela policiais e bombeiros militares na Paraíba atingidos por algumas das patologias citadas, sendo importante e
significativo, aprofundar o tema, explorando mais a intimidade sob cada situação-problema, ou ponto de vista, para dar mais robustez a esse estudo preliminar.
Por fim, como encontrado problemas importantes e significativos, deixo duas contribuições que podem ser
acolhidas como medidas profilaxias:
[1] que haja um acompanhamento da saúde de todos os militares que hoje tenham 40 anos ou mais, buscando investigar se há presença de alguma patologia mencionada nos achados dessa pesquisa, por meio de exames de rotina a serem feitos todos os anos, dentro do mês de aniversário de cada policial ou bombeiro militar, cujas consultas e exames constem numa programação financeira ou convênio dessas corporações para custeio próprio; e
[2] que haja uma interação entre os sistemas de atendimento social, econômico, médico e psíquico com as unidades militares de modo que, políticas socioeconômicas, jurídicas, de segurança e de prevenção em saúde sejam passíveis de serem operacionalizadas com benefícios abrangentes, baixos investimentos e que traga satisfação tanto para quem as recebe, como para àqueles praticam.
Walber Rufino
Coronel R/R do Corpo de Bombeiros Militares da Paraíba, Doutor em Ciências Policiais
jwrt2020@gmail.com