A imprensa paraibana foi alvo nos últimos dias de ataques e constrangimentos de toda ordem. Na quinta-feira o próprio governador do estado, Ricardo Coutinho, que se auto elogia por sua postura republicana e democrática, disse numa entrevista coletiva, pra todo mundo ver e ouvir, que durante seu Governo quem decide a pauta do que o jornalista tem que perguntar, é ele próprio. E na sequência ainda acusou Empresas de Comunicação de criarem fatos contra sua gestão, ele mesmo elegendo TVs, às quais seus aliados vissem como um mal ao seu Governo.
Coincidência ou não, um dia após, manifestantes destruíram o portão da TV Cabo Branco, picharam o muro da empresa e ainda agrediram um jornalista que flagrou o momento e os autores dos fatos. Tomaram celular e danificaram o equipamento do profissional que apenas desenvolvia seu trabalho diário, sem dirigir uma palavra sequer aos agressores. Tudo gravado e fotografado, no meio da rua.
É perfil que merece realmente um estudo, esse do governador da Paraíba. Pois foi na imprensa que Ricardo Coutinho encontrou eco para suas frequentes denúncias contra os gestores. Foi através da voz , dos textos e de matérias de jornalistas, dessas mesmas empresas, que ele construiu sua carreira política. E nos deparamos agora com o beneficiado constrangendo, atacando e acusando, quem sempre lhe beneficiou.
Lembro-me de um fato que pela primeira vez vou revelar. Ocorreu no auge da relação conturbada entre o Governo Cássio e o Sistema Correio de Comunicação. Certa vez encontrei o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Artur Cunha Lima, no corredor que dava acesso ao plenário, e pedi pra que me desse uma entrevista para a TV Correio. Aliado de Cássio e de postura temperamental, Artur Cunha Lima me falou “Olha Marcelo, não é nada com você, mas devido esse clima entre o Governo e a Empresa que você trabalha, me desculpe mas não vou lhe dar a entrevista”.
Hoje comparando a cena da época com a de quinta-feira na inauguração do Hospital Metropolitano de Santa Rita, vejo que Artur foi um diplomata, e o cordeiro Ricardo virou um lobo feroz e devorador de vidas. Essa ânsia de atacar e acusar dever ser a justificativa fundamental para que o governador resolvesse não deixar o Governo agora, e criar uma guarda pessoal para acompanhá-lo, quando deixar o poder.
Chamou ainda mais a atenção o fato de que o erário bancou os aplausos que o governador recebeu quando afirmou que quem definia a pauta era ele, o entrevistado. Mas tudo é só questão de tempo. Pois quem faz e quem cumpre pauta, é jornalista, e essa é pra toda a vida. Já o cargo de governador não é profissão, tem dia e hora pra acabar.
A imprensa paraibana precisa levantar a voz, senão pode ficar sem ela. Por isso equilíbrio, mas coragem, pois os governadores passam, e nós jornalistas ficamos.