Quando acabou a segunda guerra mundial a Europa ficou dividida entre os países da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, liderado pelos Estados Unidos da América e seus aliados na Europa e os países do Pacto de Varsóvia, acordo militar assinado em 14 de maio de 1955 entre a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e outros países do leste europeu de orientação comunista.
A OTAN existe desde 4 de abril de 1949 e segue existindo como um pacto militar entre os americanos e outros países ocidentais com o objetivo de ajuda operacional militar mútua, diferente do Pacto de Varsóvia que findou com o esfacelamento da União Soviética e a queda do muro de Berlim.
Os países pertencentes ao Pacto de Varsóvia a partir de 1997 começaram a ser anexados à OTAN num processo de expansão de acordos militares que sempre incomodou a Rússia, que tinha nos países do leste europeu uma “cortina de ferro” para a proteção de Moscou.
O termo “cortina de ferro” foi dito pela primeira vez por Winston Churchill, ex-primeiro-ministro britânico. O termo refere-se à divisão da Europa entre territórios capitalista e socialista e hoje 14 países do extinto pacto de Varsóvia já foram anexados à OTAN.
O fim da União Soviética também resultou na independência da Ucrânia em 1991, reacendendo tensões na região, sobretudo na península da Crimeia, localizada no mar Negro, banhada a nordeste pelo mar de Azov. Uma península estratégica que historicamente é disputada desde a época do império Otomano.
Em 1994, a assinatura do Memorando de Budapeste pela Ucrânia, Reino Unido, Estados Unidos e Rússia, na época fragilizada, assegurou temporariamente limites territoriais da Ucrânia e, por conseguinte, a segurança daquele país. Além disso, o memorando garantiu a permanência da Crimeia no território ucraniano.
Entretanto, a conjuntura política ucraniana mudou na primeira metade da década de 2010. Na época havia uma expectativa do ocidente com o andamento das negociações para que a Ucrânia formalizasse um acordo de livre-comércio com a União Europeia, estreitando assim os laços do país com o bloco econômico e em consequência com a OTAN.
Acontece que o presidente ucraniano da época, Viktor Yanukovich era favorável à Rússia e em 2013 suspendeu os diálogos com a União Europeia, suscitando assim a reação imediata da população, que tomou as ruas da Ucrânia.
Protesto que ficou conhecido como “Euromaidan”, levando em 2014, no dia 22 de fevereiro o parlamento ucraniano a destituir Viktor Yanukovich do poder na Ucrânia, momento oportuno para o grupo pró-Rússia assumir o parlamento da Crimeia, aproveitando o vácuo de poder na Ucrânia.
A maioria da bancada do parlamento votou de forma favorável à desvinculação do território da Crimeia a Ucrânia e também a uma nova anexação à Rússia. Em março de 2014, um referendo aprovou a anexação da Crimeia ao território russo por uma maioria de 96,7%, entre 1,2 milhão de eleitores.
— A população da Crimeia é majoritariamente russa (cerca de 60% do total de habitantes), além de haver uma estreita relação histórica e étnico-cultural.
Após as operações russas de ocupação da Crimeia, Obama, então presidente americano, advertiu Moscou do que chamou de “severas consequências” caso um processo de anexação fosse efetivado, o que veio a acontecer de fato.
Desde então, todas as negociações entre os dois países têm falhado.
Em 18 de dezembro de 2014, Obama assinou uma lei proposta pelo senador Bob Menendez garantindo apoio estratégico a governo ucraniano em questões de soberania e territorialidade, ou seja, os americanos decididamente na gestão democrata revolveram anexar a Ucrânia a OTAN, o que notadamente é inaceitável para a Rússia.
A Ucrânia fica a cerca de apenas mil quilômetros de Moscou, que não quer aceitar uma base militar da OTAN tão próxima. Seria o mesmo que os russos instalassem uma base militar em Cuba ou no México e Canadá, o que naturalmente os americanos não iriam tolerar.
O Wladimir Putin, presidente da Rússia, fala em uma Ucrânia desmilitarizada para um possível acordo de paz, mas vai aproveitar a situação para anexar mais dois territórios, Donetsk e Luhansk, onde vem fomentando movimentos separatistas e inclusive ja reconheceu a independência.
Agora uma coisa precisa ser dita, o desastre da atuação do atual presidente americano, Joe Biden, que diferente do seu antecessor, revolveu avançar de forma idiota no plano iniciado por Obama de anexar a Ucrânia à OTAN, inclusive com envios de tropas militares.
Bem diferente de seu antecessor, Donald Trump, que a mídia detesta, mas que tinha altivez e pulso diplomático para negociar com Putin um caminho que poderia oferecer paz a região, abertura econômica, sem nenhuma ambição militar.
O que vai acontecer agora?
— Bem, líderes europeus e americanos estão falando em represálias econômicas, que serão inócuas. A Europa depende do fornecimento de gás da Rússia e Putin sabe isso. O que vai acontecer é que provavelmente a Rússia vai de fato anexar Donetsk e Luhansk ao seu território e até um pouco mais para interligar territorialmente os territórios a Crimeia.
Haverá matança de civis?
—Não creio nesta hipótese, evidentemente que é uma guerra e guerras matam, mas devemos lembrar que a maioria dos habitantes dos territórios de Donetsk e Luhansk se identificam como russos.
Qual a reação prática da OTAN?
— Provavelmente garantir a segurança de Kiev, capital ucraniana e avançar no plano de anexar a Ucrânia à OTAN, o que faria a crise continuar.
Na prática a Rússia quer garantir os territórios onde a população é hegemonicamente russa e negociar para o restante da Ucrânia um acordo de desmilitarização da região e vamos ver até quando a Europa vai sustentar o destrambelho de Joe Biden.
E o papel do Brasil e do governo Bolsonaro?
— No meu entender a neutralidade, o Brasil não tem nada com isso e o mundo passa por um momento de transição do eixo de poder geopolítico, com o crescimento da China aliada a Rússia e do outro lado, os Estados Unidos e a Europa.
— Bolsonaro fez uma fala correta no encontro com Putin, disse que era amigo da Rússia, mas disse também desejar a paz e o respeito à soberania dos países.
O Brasil e a Rússia tem interesses comuns que precisam seguir além do conflito da Ucrânia. O papel do Brasil é diplomático e sempre buscar a paz.
— Enfim, o caminho da paz é a diplomacia sempre. Guerra só leva a morte e desgraça. Espero que tenham gostado da explicação.