Quem se lembra do ditado “farinha pouca, meu pirão primeiro”? Pois é, não há vacinas do Covid para todos e a guerra por vacinas já mobiliza todos os lugares do mundo, com a volta de medidas protecionistas.
A União Europeia, por exemplo, já ameaçou bloquear a exportação da vacina de Oxford, produzida no continente europeu pela farmacêutica AstraZeneca.
A própria ONU já denunciou os países ricos de reterem vacinas em detrimento dos países pobres, que dependem da vacina distribuída pelo consórcio internacional, o COVAX Facility.
No Brasil, que é o país que mais vacina no mundo, dentre os países que não exportam, o Congresso Nacional debate a permissão da aquisição de vacinas pela iniciativa privada, em particular pelo grupo empresarial liderado pela bilionária Luíza Trajano, grande patrona na iniciativa.
O empresário “bolsonarista” Luciano Hang é outro defensor e entusiasta da possiblidade da compra de vacinas, contudo, uma questão permanece no ar, quem serão os vacinados por essas vacinas?
Fala-se em doação de 50% das vacinas adquiridas para o PNI- plano nacional de imunização do SUS, mas e os outros 50%?
Entendo que os funcionários das empresas que são consideradas essenciais, a exemplo dos supermercados, já deveriam constar nos grupos prioritários, independente da aquisição de vacinas pela iniciativa privada.
Agora, quais os empresários nesta crise econômica que assola o país tem condições de negociar e adquirir tais vacinas? Os gigantes notadamente, os mais ricos, os mais poderosos.
Vamos lembrar que mais dos 70% dos empregos formais no Brasil estão nas pequenas empresas, exatamente as que mais estão sofrendo nesta pandemia.
Há estudos que apontam que com a pandemia os ricos estão ficando mais ricos e os pobres mais pobres e a permissão da aquisição de vacinas pela iniciativa privada não pode, de forma alguma, favorecer os mais poderosos.
Querem adquirir vacinas? Vamos permitir que o setor privado adquira, neste momento todas as vacinas são bem-vindas, mas para se somar as mais de 500 milhões de doses já contratadas pelo governo federal.
Fundamental que 100% da vacinas adquiridas pela iniciativa privada sejam entregues ao Ministério da Saúde, para o PNI-plano nacional de imunização.
Não podemos aceitar privilégios, seja para quem for. Da mesma forma que repudiamos veementemente as tentativas de tribunais e setores da elite do funcionalismo de furar a fila, devemos ser igualmente contra a vacinação de grupos por uso do poder econômico.
O barco precisa ser um só, sem diferença de classe social, poder ou condição econômica, caso contrário, com cada um no seu barco, quem vai afundar é o Brasil.