Após insinuações de lideranças do PT e do PSB sobre o assassinato de dois agricultores na Paraíba ter relação com política e chegaram até a associar o fato à eleição na época do presidente Jair Bolsonaro, eis que agora a Polícia Civil da Paraíba revela que os crimes nada tem a ver com criminalização do MST, nem com política.
“Não há nenhum tipo de criminalização do Movimento Sem Terra, o crime não tem nenhuma relação com a atividade social do movimento. É um crime motivado por questões pessoais, econômicas, de pessoas que se relacionavam com membros, integrantes do movimento”, explicou a delegada Roberta Neiva, ao G1.
Os dois agricultores, José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando, e Rodrigo Celestino, foram assassinados no dia 8 de dezembro, por volta das 19h, no acampamento Dom José Maria Pires, em Alhandra. O fato ocorreu ainda no calor do resultado das eleições em que Jair Bolsonaro acabara de vencer as eleições contra o candidato do PT, o ex-ministro Fernando Haddad.
A presidente do PT, a então senadora Gleisi Hoffmann , veio às pressas do Rio Grande do Sul, para a cidade de Mari, onde foi realizado o velório e sepultamento do agricultor José Bernardo. O então governador Ricardo Coutinho (PSB) e lideranças do PT, a exemplo do deputado Frei Anastácio, estiveram presentes e alguns deles fizeram uso da palavra.
A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores Gleise Hoffmann , chegou a fazer diversas publicações em sua conta no twitter , “agora à noite dois militantes do MST, José Bernardo da Silva, conhecido por Orlando, e Rodrigo Celestino, foram brutalmente assassinados por capangas encapuzados e fortemente armados no Acampamento Dom José Maria Pires, no município de Alhandra na Paraíba. Violência política !”, escreveu Gleisi.
Em seu twitter a presidente do PT chegou a publicar em meio as diversas postagens sobre o assassinato dos dois agricultores, em Alhandra, uma matéria publicada pelo site brasil247.com , com o título “Bolsonaro diz que vai tratar MST como movimento terrorista”.
Em outra publicação a presidente do PT escreveu : “Esses assassinatos na Paraíba demonstram a atual repressão contra os movimentos populares e suas lideranças. Lutar não é crime! Nestes tempos de angústia e de dúvidas sobre o futuro do Brasil, não podemos deixar os que detém o poder político e econômico traçar os destinos do povo”, afirmou.
CRIME OCORREU POR EXTRAÇÃO DE AREIA NA ÁREA DO ACAMPAMENTO
Cinco meses após o assassinato dos dois agricultores, a Polícia Civil da Paraíba, prendeu três suspeitos, cumpriu mandados de busca e apreensão, e revelou que os crimes ocorreram porque uma das vítimas proibiu um dos suspeitos de fazer extração de areia na área do Acampamento.
Segundo a delegado Flávia Assad , o acampamento é uma área de extração, com permissão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra na Paraíba (MST-PB).
O Movimento Sem Terra cobrava R$ 2 mil por mês a cada areeiro, para a extração de areia na área do Acampamento, sendo repassados os valores de R$ 1 mil ao MST, e R$ 1 mil aos assentados no local. Um dos suspeitos fazia a extração durante a madrugada e não pagava a quantia.
José Bernardino, ao tomar conhecimento proibiu o homem de fazer a extração, o que gerou o atrito, que resultou injustificadamente no assassinato dos agricultores.
O portal do PT publicou as falas das lideranças, a partir de publicação do site Brasil de Fato :
Abaixo, alguns trechos de falas de autoridades e militantes na despedida dos companheiros assassinados Jackson Macedo – Presidente estadual do PT – PB
A preocupação é grande, não só pelo que aconteceu mas o que pode acontecer na nova conjuntura da politica nacional. Nós temos uma preocupação muito grande com o governo Bolsonaro. A polícia em João Pessoa bateu na juventude do hip hop gritando agora é Bolsonaro, então a luta da esquerda é muito grande, nós temos que criar uma grande frente de mobilização de defesa dos trabalhadores pois temos um futuro muito incerto para os militantes.
Paulo Marcelo – presidente da CUT – PB
É um momento de extrema tristeza para um dos importantes movimentos do Brasil e para todos os movimentos; o movimento sindical está de luto, o MST está de luto e daqui a um pouco mais de vinte dias se aproxima um novo brasil muito preocupante. O que nós vimos com esses dois bárbaros assassinatos é apenas o reflexo daquilo que se aproxima dos brasileiros que lutam por reforma agrária e por direitos. E o Brasil e o mundo já sabem que esse governo vem para tratorar os movimentos e fica aqui o nosso repúdio, em nome de todos os trabalhadores. E temos que reagir não ter medo, temos que continuar a luta e colocar todos os meios possíveis para defender a classe trabalhadora.
Gleisi Hoffman – senadora e Presidenta do PT nacional
Como dói que seja assim, saber que não serão os primeiros nem serão os últimos… por que que tem que ser assim? Por que tem que morrer pra poder ter um pedaço de terra pra produzir, pra poder sustentar sua família. Como é triste ver uma criança com fome. E os companheiros que enfrentam essa situação pagam com a vida. Um pais de exclusão onde a maioria luta para sobreviver, literalmente. Um país de 500 anos, que começou dizimando os índios, explorou os negros, colocando-os pra fazer serviços sem remuneração, excluindo os pobres… como um país como esse pode falar em desenvolvimento? Não tem desenvolvimento enquanto alguns tiverem que morrer para ter acesso a comida. E então a elite vem falar de paz social, dentro de carpetes e ar-condicionado. Paz social se discute aqui na lida, tendo que lutar pela comida e lutar para não ser assassinado. Na história desse país o único momento, um soluço de justiça social foi quando Lula assumiu. Pode ver na história. Queremos justiça, mas a maior justiça que podemos fazer é continuar na luta!
Ricardo Coutinho – governador da PB
Há nove anos atrás o José Bernardo teve um irmão executado da mesma forma. Eu fico me perguntando qual será o futuro desse país. Temos aqui uma perda afetiva, familiar, mas temos também a perda de algo que demora dez anos para se formar, que é a perda de um quadro, uma liderança. Não se forma liderança a três por quatro. Uma liderança, para se constituir, leva tempo, provações, legitimidade. Estamos passando pelo pior momento que é o da criminalização da sociedade que quer se organizar. Precisamos estar atentos porque a serpente saiu do ovo, já está espalhada na cabeça de muita gente que sonha em poder resolver tudo na base da bala. O brasil involuiu, está andando pra trás e vai andar cada vez mais para trás à medida que a gente aceita esse jogo e não se organiza. E enquanto governador iremos às ultimas consequências: desde ontem estamos buscando todo tipo de informação. Para que a gente possa punir, não apenas o executor, mas quem manda matar. Porque, do contrário, isso voltará a ser uma rotina no estado