Foi no mínimo esquisito o fim de festa junina antecipada das oposições na Paraíba. Surpreendeu muito por causa da lógica coletiva que se formava em torno do favoritismo da candidatura de Luciano a governador do Estado, construído a partir de sua liderança na Capital, fato só acontecido nos últimos tempos com Ricardo Coutinho, também por duas vezes prefeito de João Pessoa.
Mas, o que terá havido para que as engrenagens políticas tenham saído do eixo e gerado esse desastre tão inesperado, de proporções sísmicas ?
Bem ou mal comparando, juntando os costumes atuais e os modos antigos dos folguedos juninos, foi mais ou menos assim: Luciano estava na festa alheia como aprendiz de sanfoneiro, aguardando ser entronizado em substituição aos tocadores afamados, verdadeiros donos do pedaço. Era, apesar das figuras renomadas presentes, quem despertava a atenção, por conta do sucesso que começava a fazer na cidade grande.
A festa se desenrolava fagueira madrugada a dentro com Luciano atento aos mínimos detalhes. E o que viu ? Viu de tudo : o tocador misturando ritmos, os dançadores trocando forró por gafieira, mulher dançando com mulher e homem com homem, infidelidade entre namorados e casais, gente de fora provocando brigas para manchar a boa fama do lugar e outras sabotagens para que ele não pudesse tocar e revelar seus dotes de foleiro promissor.
Aborrecido e frustrado com cenário tão promíscuo e confuso, só comparável de perto à política partidária do século 21, Luciano chamou a um canto da sala Lucélio e Zennedy, seus escudeiros mais confiáveis, e juntos traçaram um plano bombástico de fuga.
Foi aí que o trio chutou o tamborete do sanfoneiro, furou o zabumba, silenciou o triângulo, apagou o candieiro, derramou o gás, botou pimenta no salão, misturada com merda e cabelos de gato, bateu a porta e fechou por fora e deixou todos do lado de dentro coçando os olhos, tossindo e espirrando – uma tortura em massa que só Lampião foi capaz aplicar a festeiros nos tempos áureos do cangaco. Ao sair, alguém do trio ainda soltou uma pilhéria : “ se era para dançar forró pé-de-serra limpo, a gente ia tocar, mas gafieira, não ! “
Feito o que ficou conhecido como “ a noite das garrafadas”, o trio sumiu como um relâmpago sem deixar vestígios, parecendo os devotos de São Cipriano, para quem, segundo a lenda, sendo seguidor de suas orações, quando estiver empreendendo fuga, vítima de caçada humana, se encanta e se transforma em animal, pedra ou árvore, confundindo os perseguidores. No caso, três pedras, ou três animais ou três vegetais, com a vantagem de mudarem de lugar e de caminho.
Comparações à parte, as festas juninas da oposição precisam ser refeitas com os mesmos tocadores de antes, sob pena de sobrar mais fogueiras e menos forrós nos arraiais deste ano. Contudo, os folguedos de São João não se acabam à falta de um tocador, embora possam perder em brilho na ausência de sanfoneiro revelação. Festa de povo, só de povo depende.
Vamos tentar esmiuçar o significado real da atitude de Luciano e as consequências para todo o processo político e eleitoral em marcha. Quem perde, quem ganha e o realinhamento das forças e correntes em confronto. Cartaxo perdeu ou ganhou abandonando um projeto favorito de chagar cedo ao governo da Paraíba ? RC e Luciano são dois bicudos que se bicam, ou agora dois bicudos que se beijam ? Maranhão e Cássio se unem para recuperar o que perderam separados ? Luciano leva com ele eleitores da oposição ou só o que tem dele mesmo na capital ? RC continua com as mesmas dificuldades de viabilizar um candidato frágil, ou faz ele melhor candidato à custa de Luciano ? Zé Maranhão, agora no primeiro lugar após a renuncis de Cartaxo, mantém-se na liderança voltando-se inteiramente para a oposição ?
Questões como essas serão respondidas no próximo artigo – na terça-feira, dia 06. Uma coisa, porém, é certa, Luciano não parece querer ser liderado por ninguém. Isso é o maior X das questões, o que exclui tanto Cássio, quanto ZÉ Maranhão ou Ricardo Coutinho ,e será objeto de suas novas estratégias daqui para frente. A senha pode ser esta : nos folguedos de Luciano quem dá o tom da música e imprime o ritmo e quem abre a sanfona é ele próprio. Resta saber quem dança .