Uma auditora do Tribunal de Contas do Estado ficou encarregada de realizar diligência in loco com o intuito de averiguar a regularidade e efetividade da compra de mesinhas digitais pela Prefeitura de João Pessoa. A compra de 228 mesinhas digitais, ao preço unitário de R$ 18.950,00, com total da aquisição em R$ 4,3 milhões chamou a atenção .
A aquisição dos equipamentos ( 228 mesinhas digitais) foi alvo de críticas e denúncias, daí a necessidade maior de uma inspeção pela auditoria do TCE sobre diversos aspectos do processo de licitação, preço, entrega dos produtos, qualidade e efetividade das tão faladas “mesinhas digitais”.
A auditora fez diligência indo até a Secretaria da Educação, o almoxarifado da Educação e na creche Municipal Márcia Suênia Madruga e na Escola Municipal Índio Piragibe.
A auditora do TCE constatou características das “mesinhas digitais” que lhe surpreenderam.
.”A “mesinha” revelou-se bem mais que uma mesa pequena. É feita com um material plástico resistente, com tela touch screen, som, diversos aplicativos pedagógicos, à prova de água. No almoxarifado, representantes da Prefeitura demonstraram para esta Auditora o uso da máquina em situações extremas dando murros e derrubando água por cima”, consta no relatório da referida auditora.
“A mesinha acompanha também uma plataforma de software em que é possível registrar as escolas, alunos e planos de aula. Merece registro a existência de planos de aula sugeridos pela plataforma que já relacionam diretamente aos componentes da nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular)”, acrescentou.
A auditora constatou que 114 mesinhas digitais já chegaram a João Pessoa, e 105 já foram distribuídas com escolas e creches do município. Constatou que todas foram tombadas, e a Secretaria de Educação informou a relação de unidades educacionais que receberam as mesinhas.
A auditora foi até a creche Márcia Suênia Madruga, em Mangabeira VIII e encontrou duas mesinhas na sala de atendimento especial.
“Segundo a responsável, houve um treinamento na escola para mostrar como o recurso pode ser usado. Até o momento elas não foram utilizadas pelos alunos, pois chegaram há poucos dias e o planejamento é de iniciar o uso após recesso de São João, nos informou representante da escola”, informou a auditora no seu relatório.
Em seguida foi até a Escola Municipal Índio Piragibe e encontrou a mesinha digital sendo utilizada por professora e alunos.
“A Professora responsável, Silvia Helena Oliveira da Silva, nos informou que utiliza todos os dias a
mesinha, que a escola possui em torno de 70 deficientes, que a mesinha tem sido de grande ajuda no processo educacional, especialmente por ser muito atraente às crianças PCDs. Além disto, mostrou vídeos e fotos do seu celular com crianças autistas interagindo com a ferramenta, relatos de mães e avós”, acrescentou a auditora.
No relatório ocorreu algo não muito comum. A auditora , mãe de autista de 11 anos de idade, trouxe ao conteúdo técnico, um depoimento pessoal subsidiado pelo que ouviu das professoras, pelo que viu na utilidade das mesinhas e por sua própria experiência de mãe de autista.
RELATO DA AUDITORA SOBRE OS REUSLTADOS DAS MESINHAS DIGITAIS NA EDUCAÇÃO DE ESPECIAIS
“A objetividade exigida por um Relatório de Auditoria irá aqui receber um parênteses desta Auditora e mãe de uma criança autista de 11 anos ainda não completamente alfabetizada, mesmo tendo recebido tratamentos contínuos com os melhores profissionais desde seus 3 anos e meio.
Segundo dados do Censo Educacional de 2022, a rede municipal de ensino público de João Pessoa possuía 3090 alunos matriculados na educação especial.
São alunos autistas, surdos, mudos, baixa visual, disléxicos, TDH, outros transtornos globais de desenvolvimento, paralisia cerebral e outras deficiências que atraem consigo uma imensa complexidade à comunicação, à aprendizagem, ao comportamento.
As mesinhas possuem aplicativos para apoiar o desenvolvimento do cérebro autista, ajudar na alfabetização, livros escritos em língua portuguesa e “contados” na linguagem de libras e tantos outros. Os sons, o colorido, a resposta do equipamento a uma ação do aluno sem a intermediação de um adulto pode ser uma importante porta para o desenvolvimento destas crianças.
Verifiquei que diversos aplicativos instalados na mesinha, também instalei no meu celular e em tablets, para tentar usar com a minha filha. Mas, talvez por serem equipamentos pequenos e por terem outros estímulos (como jogos que ela tinha fixação), não obtive muito sucesso na minha saga de mãe que quer que a filha autista
aprenda a ler. Por diversas vezes, ela, em sua frustração por não acertar, por não jogar o que queria, por não conseguir comunicar o que sentia, quebrou tablets, jogou celulares pela janela. Livros, cadernos e lápis muitas vezes também foram alvo da sua justificada fúria.
Olhando em perspectiva, eu acho que esta mesinha poderia ter ajudado sobremaneira no seu processo de leitura e escrita.
Preciso acalmar o atento leitor, uma vez que a “vidinha razão da minha” já está bem mais madura e calma, tendo melhorado consistentemente sua comunicação e controle de tiques e crises. A realidade dela, porém, é infinitamente melhor que a de diversas outras crianças que não possuem condições financeiras para os melhores
tratamentos, medicamentos, consultas, estímulos e disponibilidade da família.
A citada Professora Silvia Helena Oliveira da Silva contou estar muito emocionada, pois um de seus alunos, autista adolescente não verbal, tentou se comunicar pela primeira vez utilizando tecnologia: ele mandou sozinho, três mensagens para ela à noite. Duas de voz, porém sem som algum. A outra foi uma mensagem com diversas letras que juntas não se traduziam em palavras. Só quem entende o universo do autismo é capaz de compreender o valor desta “comunicação”.
A professora se emocionou. Contou que a mãe também. Eu, ao ver as mensagens na minha diligência in
loco, também.
De fato, as mesinhas não são baratas. Na verdade, para a mãe de uma criança deficiente, elas nem preço tem!