O meu xará , Renato Russo, cantava assim a música “Meninas e Meninos” sem o tal “menines”:
“Eu canto em português errado
Acho que o imperfeito não participa do passado
Troco as pessoas
Troco os pronomes”
A turma do LGBTI+ não precisa usar o “todes” para conquistar respeito. O ex-professor de inglês Renato Manfredini Júnior, o roqueiro Renato Russo, não precisou ofender a língua portuguesa para amar e ser amado.
Nosso idioma é tão desrespeitado hoje em dia que deveríamos exaltar o 5 de maio, que é o dia internacional da língua portuguesa.
Seria um dia sem galicismos e anglicismos, sem estrangeirismos e sem essa aberração e invencionice de linguagem neutra. Um dia para Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Cora Coralina, Fernando Pessoa e outros tantos conhecidos e anônimos que bem usaram e usam, sem abusar do idioma de Camões.
Tudo bem que o importante é se comunicar, mas o idioma é a identidade cultural maior de um povo e merece respeito. Até hoje não entendo a substituição do termo “entrega a domicílio”, pela palavra inglesa “delivery”. É mais bonito?
Com fome do bom português, resolvi substituir os estrangeirismos:
“Eu não sou nada light, nem gosto de fitness. Vou tomar um drink, que está gelando no freezer do meu flat e no app do smartphone, vou pedir um hot dog.”
E assim ficou:
“Eu não sou nada leve e nem gosto de ginástica. Vou tomar uma bebida que está gelando no congelador do meu apartamento e no aplicativo do celular, vou pedir um cachorro-quente”.
A língua é viva, quem a mata é a ignorância e cada qual com sua ignorância.
O inesquecível Ariano Suassuna contou que um sociólogo apareceu em Taperoá para avaliar o nível de conhecimento das pessoas e na feira livre questionou um peixeiro: “Sabe quem é o presidente dos Estados Unidos?” Peixeiro: “Não sei, não senhor.” O sociólogo: “E a cotação do dólar?” O peixeiro: “Não sei o que é dólar, nem muito menos cotação.” O sociólogo: “Então, o senhor é um ignorante!”
O peixeiro então pegou uma traíra e indagou: “O senhor sabe que peixe é este?” O sociólogo: “Não, desconheço.” O peixeiro pegou um curimatã: “E este?” O sociólogo: “Não.” O peixeiro, pegando uma tilápia: “E este aqui?” O sociólogo: “Também, não.”
O peixeiro, guardando seus peixes, finalizou: “Pois é, doutor, cada qual com sua ignorância…”
Aproveitando este causo, outro dia perguntei para um vaqueiro semianalfabeto se ele era um doutor, logo depois que ele velozmente abateu e limpou um carneiro, com uma habilidade incrível com a faca. Ele me respondeu com a faca na mão, que sim: “Naquilo que sei fazer, eu sou doutor”.
O novo imortal da Academia Brasileira de Letras, Gilberto Gil, que chega agora para a cadeira antes ocupada pelo saudoso potiguar Murilo Melo Filho, tem uma composição extraordinária de nome metáfora, que num trecho diz:
“Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora”
Portanto, quem sou eu para dizer se cabe ou não Gilberto Gil como imortal da academia? Outro dia o Bob Dylan ganhou o Nobel de literatura. Não é uma surpresa, acho até mais válido que a eleição da atriz Fernanda Montenegro. O que sei, que na música, Gil já era um doutor e imortal e quem não gostou: Aquele abraço !