Quem gosta de cinema com certeza conhece o saudoso ator Charlton Heston do antológico épico Ben-Hur de 1960, que recebeu onze premiações no Oscar, incluindo o de melhor ator, como se lembra dele de outros filmes de extremo sucesso como “Os Dez Mandamentos” de 1956 e “ o Planeta dos Macacos” de 1968, entre outros.
O inesquecível ator americano, falecido em 2008 com 84 anos, também ficou conhecido por conta de sua militância política na defesa da liberdade, chegou a caminhar ao lado de Martin Luther King na luta pelos direitos civis em 1963, com imagens registradas dele com a faixa que dizia: “Todos os homens nascem iguais”.
No final de sua longeva vida, depois de passar pelos partidos democrata e republicano, Charlton Haston disse que o politicamente correto é apenas tirania com boas maneiras.
Sem dúvida alguma o politicamente correto é tirânico e opressor, ontem o jogador da seleção brasileira de vôlei, Maurício Souza, foi punido por seu clube, o Minas, como por seus patrocinadores por conta de sua opinião numa rede social criticando a versão do Superman bissexual numa revista em quadrinhos.
Nesta CPI do Covid o que mais assistimos foi a criminalização de médicos com vastíssimo currículo científico e profissional por defenderem uma visão diferente no tratamento do Covid 19, o chamado tratamento precoce.
O próprio presidente da república, Jair Bolsonaro virou saco de pancada da policialesca perseguição a opinião que fica fora da caixinha do politicamente correto e pior, muitos de seus apoiadores foram e estão absurdamente presos por crime de opinião.
Estamos ou não estamos em guerra, a chamada guerra cultural e vivendo a opressão da ditadura do politicamente correto? Passaporte sanitário, banimentos, censuras diversas nas redes sociais e imprensa, tudo isso foi alertado por Charlton Heston em um belo discurso para os estudantes de Direito de Harvard em 1999.
O Charlton Heston, naturalmente, pensava nos Estados Unidos, mas a opressão que ele denunciava se alastrou por todo o Ocidente. Segue trechos do discurso do ator aos universitários, intitulado “VENCENDO A GUERRA CULTURAL”:
“Dedicando o memorial de Gettysburg, Abraham Lincoln disse da América: ‘Estamos envolvidos numa grande guerra civil, testando se esta nação consegue resistir.
Essas palavras são verdadeiras de novo. Estamos novamente envolvidos numa grande guerra civil, uma guerra cultural prestes a sequestrar seu direito natural de pensar e de dizer o que existe no seu coração. Tenho certeza de que vocês não confiam mais no sangue vital da liberdade que pulsa dentro de vocês, a coisa que fez esse país se erguer da natureza selvagem ao milagre que ele é.
Há um ano ou dois, me tornei presidente da Associação Nacional do Rifle (National Rifle Association), que protege o direito dos cidadãos americanos de ter armas. Agora sirvo de alvo móvel para a mídia, que me chama de tudo, de ‘ridículo’ e ‘iludido’ a ‘velho doido, senil, deficiente mental’. Sei que sou bem velho, mas certamente não estou senil.
Como fiquei no caminho daqueles que miram as liberdades da Segunda Emenda, percebi que as armas de fogo não são a única questão. É muito maior que isso. Compreendi que uma guerra cultural está se alastrando por nossa terra, na qual, com fervor orwelliano, certos pensamentos e discursos são obrigatórios.
Por exemplo: eu marchei com o senhor King pelos direitos civis em 1963 – muito antes de Hollywood considerar isso aceitável, devo dizer. Mas quando eu disse a uma audiência no ano passado que orgulho branco é tão válido quanto orgulho negro, orgulho vermelho ou qualquer outro orgulho, me chamaram de racista.
Trabalhei com homossexuais brilhantemente talentosos ao longo da minha carreira inteira. Mas quando eu disse a uma audiência que os direitos dos gays não deveriam ultrapassar os seus direitos ou os meus direitos, me chamaram de homofóbico.
Todo mundo que eu conheço sabe que eu nunca agrediria meu país. Mas quando eu pedi a uma audiência que se opusesse a essa perseguição cultural da qual estou falando, fui comparado a Timothy McVeigh.
Da revista Time aos amigos e colegas, eles estão basicamente dizendo: ‘Como você ousa se expressar assim? Você está usando linguagem não autorizada para consumo público’. Mas eu não tenho medo. Se os americanos acreditassem em correção política, nós ainda seríamos os criados do rei George – sujeitos à Coroa Britânica.
Como vencer essa submissão generalizada? A resposta sempre esteve aqui. Eu a aprendi 36 anos atrás, nos degraus do Lincoln Memorial, ao lado do doutor Martin Luther King e 200 mil pessoas. Você simplesmente desobedece. Sim, pacificamente. Respeitosamente, é claro. Sem violência, definitivamente. Mas quando nos disserem como pensar, o que falar ou como nos comportar, nós nos recusamos. Nós desobedecemos ao protocolo social que reprime e estigmatiza a liberdade pessoal”.
O ator que representou Moisés no cinema profetizou e tudo que ele disse para os universitários americanos há vinte e dois anos atrás é uma realidade insuportável, ao ponto de ser possível taxar o “politicamente correto” como o mal do século, um câncer com metástase que está condenando a sociedade ocidental.
O que me preocupa nesta insanidade toda, parafraseando Martin Luther King, não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons. A luta pela liberdade do pensamento e da opinião não pode perecer, não pode esmorecer.