O sonho frustrado de voar, que levou a morte de Ícaro, na mitologia grega, parece muito com o sonho de uma terceira via para a disputa das eleições presidenciais de 2022.
O Luciano Huck, apresentador global, sonho de verão do Fernando Henrique Cardoso, renovou com a Rede Globo para assumir o domingão com a volta anunciada do Faustão para a Band. Já é tido como carta fora do baralho.
O Sérgio Moro, nome sem dúvida mais forte, nenhum partido quer, pelo simples motivo de não haver um só partido no país sem o cupim da corrupção para abrigá-lo, na construção de uma candidatura viável.
Além do mais, o ex-juiz e ex-ministro ficou esmagado, sem advogado, entre o bolsonarismo e o neolulismo, sobretudo depois do que fez o vermelho e suspeitíssimo STF, o colocando, também, na condição de ex-herói.
O Ciro Gomes “pancadão”, coitado, segue preso na esquerda, que por sua vez é refém de Lula. No terreiro da esquerda nada cresce enquanto o larápio de nove dedos estiver ciscando, no comando.
Outros nomes como Mandetta, Amoedo e gatos pingados não conseguem surgir nem como figurantes de comédia pastelão. Não representam nenhum tecido social relevante no país para sequer aparecer na foto.
Restou quem? João Doria, um oportunista almofadinha, Eduardo Leite, um tucano novo, desconhecido e rejeitado em seu estado e o Tasso Jereissati, um político tradicional que não empolga.
Querem um Joe Biden brasileiro, mas não acham e neste sonho de encontrar alguém, o Fernando Henrique Cardoso vem e corta as asas de todo mundo, ou em analogia as asas de Ícaro, o cardeal tucano derreteu o sonho de terceira via.
O encontro de Fernando Henrique Cardoso com Lula, com a declaração de apoio numa disputa do petista com Bolsonaro de uma tacada só, derreteu o que pairava de ética, como qualquer sonho de terceira via, que virou pesadelo.
Por décadas o PSDB e o PT rivalizaram as disputas eleitorais e há quem fale na teoria do teatro das tesouras, onde a disputa na prática sempre foi falsa, como voltarão a dizer agora com muito mais ênfase, diante deste encontro e anúncio de apoio.
Um presente para Bolsonaro, que herdará a orfandade do antipetismo e da rejeição a Lula no eleitorado tucano, mesmo não simpáticos ao seu governo como outros grupos mais a direita.
O próprio “centro”, já se movimenta para um lado e para outro. O multipartidarismo fisiológico brasileiro já começa e se preparar para o FlaxFlu do próximo ano.
Tudo bem que existe uma parcela do eleitor que não quer nem Bolsonaro e nem Lula, mas falta um nome que aglutine esse sentimento, um “Tertius gaudens”, uma terceira força, como descrito pelo sociólogo alemão Georg Simmel.
Sem nome, sem alma, sem sentido, sem asas e sonhos a terceira via sequer voará e ano que vem teremos um plebiscito para o eleitor que não gosta nem de um e nem de outro.
Eleitor da terceira via, esse, órfão de nome, de luz no fim do túnel, quem irá decidir a eleição do próximo presidente “rejeitado”, que tomará posse em janeiro de 2023.
Para tanto, esse eleitor haverá de responder a seguinte pergunta para não anular o voto e ser responsável pela eleição do pior:
— O que é possível melhorar, o comportamento de Bolsonaro ou o caráter de Lula?