O movimento dos policiais e bombeiros militares da Paraíba é reconhecidamente legítimo e justo. Para ser verdadeiro não é de hoje que o Governo tem uma dívida histórica com esses homens e mulheres de nossa segurança pública. Profissionais que dedicam o melhor de suas vidas para defender e proteger a sociedade, muitas vezes colocando em risco sua integridade e até suas próprias vidas.
A prestação laboral do policial tem características muito peculiares que a diferencia dos trabalhadores em diversas outra atividades do serviço público ou do emprego privado. Das escalas de serviço, do caráter de atividade exclusiva, o ambiente insalubre de sua atuação, o risco de morte a cada ocorrência, e as consequências e sequelas para a mente e o corpo de um homem e uma mulher que vivem nessa tensão permanentemente.
As injustiças decorrentes da falha do Estado ou corrupção estatal também atingem os militares diariamente. Não é justo o policial arriscar a vida para prender bandidos, e ver rapidamente a liberação dos meliantes. Também ocorre e causa muita decepção o fato de que policiais e bombeiros, da mesma patente, fazem o mesmo serviço , e um ganha bem mais que o outro, porque são criadas legislações para que Governo e o Comando agraciem aqueles que mais lhe convém. Isso só revela a desorganização da legislação que trata de diversas questões relacionadas aos militares estaduais.
Estudos mostram que muitos policiais chegam a inatividade com várias doenças, e no momento que mais precisam de consultas médicas, tratamentos e medicamentos, o que ganham é um corte de seus salários, como prêmio por tudo que fizeram pela sociedade.
Em diversas lutas dos policiais, ao longo das décadas, algumas conquistas chegaram. Em 2002 houve uma grande conquista na gestão do ex-governador Roberto Paulino. Em 2010 foi um momento muito importante quando se alcançou a paridade, ou seja, o ganho isonômico entre os policiais da ativa e inativos.
Em 2011, porém, foi criada a bolsa desempenho, que abriu um abismo entre ativos e inativos. As promoções generosas , sem o devido critério, representaram um tapa na cara do militar vocacionado. Não é difícil encontrar na instituição oficiais da mesma turma, um no posto de capitão e o outro promovido a coronel.
Policiais e bombeiros militares da Paraíba, ganham um dos piores salários do Brasil, não dispõem de serviço suficiente e de qualidade na área de saúde, física e mental, são excluídos de programas habitacionais governamentais de qualidade.
A prova dos baixos salários é o pagamento de R$ 6 por hora no chamado “serviço extra” , que nada mais é que o policial trabalhando em sua folga , quando deveria estar descansando o corpo e a mente. Agora no movimento o Governo ingressou com ação judicial para obrigar policiais a descumprirem a legislação, isso mesmo, descumprirem a lei, sendo obrigados a dirigir viaturas sem o curso de emergência, exigido legalmente.
O fato é que as instituições Polícia e Bombeiro Militares merecem mais respeito por parte dos governantes. E a luta desses profissionais precisa do apoio dos cidadãos que pagam seus impostos e merecem mais segurança.
O Governo tenta utilizar suas armas contra o movimento dos policiais e bombeiros. Ora ataca dizendo que alguém está tirando proveito político , e em outro instante tenta jogar uns contra os outros, o deputado Cabo Gilberto e os presidentes das entidades.
Os próprios governadores sempre se utilizam dos bons resultados obtidos pelo trabalho dos policiais e bombeiros. Quer seja na propaganda oficial, quer seja nos discursos em períodos eleitorais, o resultado importante do trabalho dos profissionais de segurança sempre é utilizado para promoção pessoal e política dos governantes.
O Governo disso cuida e disso usa. O chefe do Executivo não pode esquecer que a tropa elegeu um representante, com votos de militares e de civis, exatamente para defender a segurança pública, e naturalmente os policiais e bombeiros. Querer desmerecer o movimento sob o argumento de quem alguém terá proveito político é no mínimo infantil ou má-fé, pois os próprios governantes são beneficiados com os excelentes resultados de nossos policiais.
Governantes chegaram ao ponto de utilizar a centenária e respeitada marca da instituição da Polícia e Bombeiros Militares da Paraíba em ações criminosas para escolta de dinheiro sujo de propina para enriquecimento ilícito e bancar campanhas eleitorais na Paraíba, como revelaram a investigação e os delatores na Operação Calvário.
O sucesso da estratégia do Governo em fazer o jogo de intriga entre o deputado Cabo Gilberto e os representantes das entidades depende da maturidade do movimento. Afinal todos estão no mesmo barco, e os benefícios, se vierem, virão para todos.
Os policiais e bombeiros devem estar vacinados contra o vírus do jogo sujo dos que utilizam a máquina. Para se ter ideia circulou nas redes sociais um panfleto em que os policiais e bombeiros estavam sendo convocados para uma GREVE GERAL , cujo único objetivo era tão somente de gerar fatos que colocassem o movimento em situação ilegal, pois todos sabem que a Constituição Federal de 1988 proíbe os militares estaduais de fazer greve.
O Governo aciona sua metralhadora midiática para atingir quem estiver na liderança do movimento, ou para gerar discórdia entre os representantes de diversos setores e entidades da Polícia e Bombeiros Militares. O jogo sujo do Governo sempre existiu e vai existir, não há inocentes nessa guerra, ou pelo menos não deveria existir.
O fato é o que o movimento cresceu assustadoramente e está preocupando demais o governador. Resta aos honrados homens e mulheres dessa histórica instituição ter estratégia, união e sabedoria, para não deixar escapar a chance de corrigir muita coisa errada e injusta contra nossos policiais.
A imprensa e a sociedade devem defender o movimento legítimo dos policiais e bombeiros militares da Paraíba nesse momento que eles mais precisam, pois são eles que sempre estão dispostos a defender a todos nós.
Quanto aos governantes não se preocupem , eles passam e a Polícia fica.
Marcelo José
Jornalista e advogado